(no seguimento da publicação da resposta a esta carta, achei por bem transcreve-la integralmente)
Caro companheiro do mundo, escrevo-te esta carta á beira mágoa, sem razão palpável aos olhos fechados do mundo material. Hoje todo o meu ser se brilha de felicidade, mas bem sabes tu que a luz só ilumina uma das faces da Lua. Eis o enredo deste pesar, a começar por um prefácio dúbio até para mim. Todas as noites, quando o meu corpo cai de cansaço a minha mente deleita-se a divagar nalgum sitio que não este, de facto um mero reflexo de tudo o que existe e mais ainda. Aí sou leve e sou livre, numa estrada sem fim, por vezes de terra, por vezes de alcatrão, com muito verde á volta. E eu caminho e não chego a parte alguma. Nem sei para onde vou, sei que se não for eu morro, ali e aqui quem sabe. Então toma-me uma aflição e eu corro, corro muito, mas não há locomoção nem tão-pouco movimento, somente paralisia e pânico, e eu fico ali, sem chegar a parte alguma, um semblante triste de peito vazio, sem alma.
Durante muito tempo não compreendi as complicadas elações deste pesadelo freudiano. Que caminho era este?
Apercebi-me que este sonho recorrente era o portal para a minha própria vida, era as reticências com que cobres as tuas obras, algo duma infinitude inalcançável que nos diz algo mágico e profundo que nenhum vocábulo inventado pela Humanidade poderia alguma vez abarcar. E não o percebia. Até que ao escrever as primeiras palavras desta carta sem sentido reparei que as tuas ultimas palavras foram de facto as primeiras. As últimas palavras de um poeta amador estiveram sempre aqui, pedindo perdão por injúrias há muito esquecidas. “Vocês são o ritmo a que bate o meu coração”, citação honesta, deveras caricata devido à proveniência burlesca dum musical. Sentíamos que éramos tudo sem ser ninguém, agora sentimo-nos ninguém sendo muita coisa.
Delírios à parte, houve uma epifania em mim, e soube finalmente a proveniência da minha mágoa. Este caminho não é mais do que a sina, que as tuas palavras encontraram na nebulosidade estranha deste ser incompleto que se diz ser eu. Não sou poeta, não escrevo, logo não sou feliz. Enquanto não embalar uma obra com o meu nome na capa, ou na mera encadernação rota, manual primitiva mas igualmente abençoada, não serei para o mundo e para mim absolutamente nada. Encontras-te ao criar, eu perco-me se não o faço. Ao confessar-te tal concepção, sinto de novo o peso destas correntes, a brutalidade destas amarras, o frio das barras de ferro que não tenho na porta. Respiro e sinto-me de novo, há um último raio de esperança mesmo que não o veja sempre. Este é o ritmo a que bate o meu coração.

Assim te agradeço irmão, por todas as coisas boas, e por me fazeres escrever algo mais que nada. A saudade aperta, o sono desperta, e até á próxima. Traz o teu bloco de notas e dinheiro para um cheese, espero-te na praia.

Kiss Kiss da MisS**


Redigida a 27/10/08

5 comentários:

Bé_ disse...

A resposta a esta carta poderá ser encontrada nas Palavras de um Poeta Amador, cujo link está disponivel na secção "Leio..."

Aconselho vivamente a lê-la pois é lindissima =)

'stracci disse...

E aconselhas bem!
(Já li. Eheheh ^^)

Be disse...

conseguiste alongar uma frase em 4 paragrafos
es mesmo boa nisto bé

Diego Fernandes disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Diego Fernandes disse...

Béé!! como você disse: "Palavras são símbolos, apologéticos de coisa nenhuma", ou seja, não há muito mais o que dizer... principalmente e o mais importante é o significado e o valor que elas têm para cada um de nós... já agora agrodeço a promoção dos meus textos =D