Porque a vida não feita de sonhos, mas de ideias venho por este meio expressar a minha opinião sobre uma matéria, já que no meio em que me insiro não mo é permitido faze-lo. Desde que tenho maturidade suficiente para cultivar o espírito que me tento constantemente construir como pessoa, não cedendo á tentação fácil de dogmas religiosos, pretensões familiares ou ambientais e visões cerradas da cultura em que me insiro. Por outras palavras:

Gosto de pensar por mim.

Será um pecado assim tão grave? Mais do que uma vez me disseram que vozes de burro não chegam ao céu, e esse princípio parece acalmar as mentes mais regressivas que me acatam o espírito com orações ou ameaçam a minha integridade física quando tenho qualquer ideia que não a vigente. Tal como esta:

Mãe, não me sinto portuguesa.

Para além dum berro valente esta inocente afirmação quase me valeu um voo rasante de uma mão aberta em fúria descomedida na minha cara. Se fosse “Sabes mãe, fui apanhada pela bofia a vender droga” ou “Mãe, estou grávida”, isso era perfeitamente normal, mas agora não me sentir portuguesa é que não pode ser. Mas passo a explicar esta postura inconcebível, que não sendo novidade é a minha.

Sinto-me uma cidadã do mundo.

Prego o internacionalismo, a globalização sustentável, a igualdade entre culturas e pessoas. Sejamos francos, os nacionalismos só reforçam as estruturas de poder, promovem conflitos desnecessários, inculcam falsos sentimentos de identidade e aparentemente também actuam ao nível do encéfalo porque impedem as pessoas de o usarem.
Será viável que na época privilegiada em que vivemos, das luzes, do progresso, dos YES WE CAN, nos algemem ao pretexto de que:

“Nasceste em Portugal, vais ser portuguesa. Vais á missa, comes tremoços, chegas sempre atrasado, comes com as mãos, queixas-te muito e não fazes nada e não te atrevas a andar por aí feliz. Carrega a tua cruz. O fado é triste, andar feliz é para os turistas!!”
?
Acho que isto até se torna insultuoso mas quem sou eu para dizer mal, não me sinto portuguesa não é verdade?
Enfim…
E na televisão, a propósito da celebração do 1 de Dezembro, perguntava insistentemente uma jornalista por volta da hora do almoço a uma senhora residente na fronteira:
“A senhora sente-se mais portuguesa ou sente-se mais espanhola?
E ela não sabia responder. Aquela hora devia sentir era fomeca, e não era o alho francês da sopa que a impediria de a comer.

Seja como for há que promover a tolerância. Faço-o e gostaria que o fizessem comigo.

Um dos argumentos atirados pela minha cara progenitora para defender a sua visão redutora foi
“Queria ver se vivesses no Paquistão, lá toda tapada sem poder falar.”
Eu disse-lhe:
Bem se não pudesse falar ao menos pensava:
“Sinto-me uma cidadã do mundo que vive no Paquistão.”

Sim porque de modo algum renego esta cultura que me deu esta língua lindíssima e os deliciosos pasteis de Belém.

(lembrei-me disto a propósito das celebrações do Euro 2004 quando inquiriam transeuntes sobre quais eram os símbolos da pátria e se ouviram pérolas tais como os referidos pasteis, “O Palhinhas” ou “O Cristiano Ronaldo”)
(sejamos francos, não há muita gente que se ajoelhe ao hastear da bandeira, o mesmo já não acontece com o Cristiano Ronaldo…)

Enfim poderia ficar horas a explicar as complexas elações sobre este tema mas não me apetece por agora. Talvez venha a abordar este tópico um dia mais tarde. Por conseguinte deixo aqui uma frase que creio resumir bastante bem a mensagem.

Sou uma cidadã do mundo
que por mero acaso nasceu em Portugal.

Atenciosamente, Ché Bé*

2 comentários:

'stracci disse...

Epá, tu às vezes dizes umas coisas interessantes, pá! Ser português também é dizer pá, sabes bem. Pá e é isto que tenho para te dizer.

Beijinhos, pá!

Be disse...

Ha muito a dizer sobre nacionalismos. Bé apenas tu e só tu saberás como te sentes em relação à tua origem.
Mas por mero acaso de um fado cruel, este país sofre de nacionalismo agudo, cascois e bandeiras por todo o lado
(a pedido de um brasileiro por sinal.), portugues aqui e ali que fez nao sei o que como se os outros fossem burros
e os portugueses os maiores. O nacionalismo na minha opinião é apenas e só uma forma diferente de racismo,
neste caso não contra uma raça especifica claro. Não pretendo alongar mais este discurso bé, pelo menos por agora
;) bem haja para ti.